O burro enxota as moscas com o rabo e abanando as orelhas. As sociedades em dissolução são tolerantes com os vermes que as destroem. por MCV às 19:51 de 01 março 2008
Medvedev
Vi um destes dias uma peça em que se comparava a incapacidade da senhora Clinton de pronunciar o nome do futuro ocupante do Kremlin com a dos vulgares, entrevistados na rua. Medvedev é um nome que ainda há uma década atrás era repetido nas páginas de desporto e nessa época não me recordo de existir esta impossibilidade de articulação. O certo é que também não vi então entrevistas de rua pedindo que repetissem o nome ou a primeira-dama dos E.U.A. a comentar as actuações do tenista. Estas coisas da televisão são assim mesmo. E a memória curta também. por MCV às 17:17
Não são estas as pesquisas que mais me interessam. As que mais me interessam são as que se assemelham a alguém agarrado a uma lista telefónica como se fosse um espelho, espelho seu e pede: dá-me o número de telefone do António que ia sair com a Manela. No entanto, são curiosas:
Coisas da última hora. por MCV às 21:33 de 29 fevereiro 2008
Coitado do António
Sou dos que não consideram as vantagens de enviar e receber SMS. Devo receber uns dez por ano e enviar zero – a combinação cartão pré-histórico / telefone recente nem sequer me deixa fazê-lo. Não sendo quase uma festa quando recebo um – que a coisa tende mais a ser um aborrecimento – não posso deixar de lhe prestar atenção, por ser coisa rara. Hoje recebi o que passo a transcrever na íntegra, respeitando a grafia e os espaços:
OLA ANTONIO! DESCULPE, MAS NAO POSSO IR AO YAT BEN. TENHO KE FICAR ATE MAIS TARDE,AJUDAR MEU SOBRINHO NA CLINICA. GOSTAVA DE IR MAS... ELE PEDIU ME. VA E DIVIRTA-SE. 1 BEIJO DA MANELA
Juro que a primeira coisa que me ocorreu é que se tratava de má publicidade. Mas não me cheira que seja, embora com o meu gesto, se eu estiver agora enganado, esteja a dar uma ajudinha à divulgação. Coitado do António! por MCV às 18:09
Ocasião perdida
Pelo que se ouve, pelo que se lê, perdi uma boa ocasião para me documentar. Reconheço que há muito vou colhendo aqui e ali provas de competência ou de incompetência dos políticos que temos. Dos políticos e dos responsáveis do sistema judicial. E dos outros que, não sendo nem uma coisa nem outra, influem na marcha das coisas mais do que eu. Baseio-me numa trivialidade: homens inteligentes jamais proferem certas afirmações, jamais concebem um silogismo absurdo, jamais dão provas de ignorância atrevida e sentenciosa; homens estúpidos jamais conseguem estribar-se em fundamentos e raciocinar habilmente a partir deles. Basta, portanto, colher aqui ou ali uma prova de uma coisa ou de outra e catalogar o respectivo orador. Que feio que é catalogar as pessoas! Mas eu faço-o. Pelos vistos, dizia, perdi hoje uma boa ocasião para me documentar. Há tempos que a ARTv me anda a fazer erisipela. Mas, caramba, quando é assim tão mau – a acreditar no que dizem – até dispõe bem. O amigo Bic Laranja refere-se a outro caso. Tudo a pedir Danny Kaye. por MCV às 18:09
Eu sei que sou um simplista. Mas gostava de ter um conjunto de boas respostas para o facto do Estado português queimar drogas às toneladas, segundo o próprio anuncia, ufano, aos quatro ventos. Que outros bens apreendidos também se incineram? por MCV às 02:55
A vitória
“A vitória está nas nossas mãos e, sobretudo, nos vossos pés!”
Luís Filipe Vieira, discursando hoje no aniversário do SLB. por MCV às 23:10 de 28 fevereiro 2008
O cemitério de Carnide
Eu devo ser um tipo muito fora da norma: no mesmo dia, assisti a três enterros no cemitério de Carnide. Fui acompanhar um dos mortos e vi, à porta da parada, dois cortejos em fila de espera. Soube ontem que o local é impróprio para inumações e que os enterramentos ali estão praticamente suspensos. Vi e ouvi na reportagem uma senhora dizer que “os antigos sabiam melhor do que nós escolher os locais para os cemitérios”. Quanto a mim, casos destes só deixam duas hipóteses: uma profunda estupidez ou uma aldrabice qualquer. Inclino-me sempre para a primeira hipótese. Sempre.
Notícias velhas sobre o caso: No JN; no DN. por MCV às 21:53
Há um porradão de anos já, quando estes horários começaram a desaparecer dos escaparates, encontrei por detrás da bilheteira um velho amigo. Perguntei se os iam deitar fora. Deu-me um rolo deles em resposta. Daqui lhe agradeço, embora ele já não possa saber que o faço mais uma vez. por MCV às 00:29 de 27 fevereiro 2008
O muro da 117
Num dos lados da 117, o esquerdo*, há um muro desde que me conheço. Ali no troço entre Queluz e Belas. A função do muro não é estrutural. É um muro de divisão, entre a estrada e o campo. Como o são a maior parte dos muros que existem por esse país fora. No dia 18, a estrada inundou com a forte precipitação que se fez sentir. Diz-se que havia uma fila de carros parados com receio de atravessar o lençol de água que se formara. Diz-se que as pessoas presentes no local faziam o que podiam para evitar que os menos conscientes se metessem a atravessá-lo. Uma coisa é certa, a pressão da água – da estrada para fora desta – arrastou o muro e com ele levou um carro que não devia estar a circular naquele momento naquele ponto. Querer responsabilizar agora as autoridades pelo acontecido apenas pode ter um caminho – responsabilizá-las por não terem encerrado a estrada e com isso impedido os inconscientes de por ela se aventurarem. Com o risco de pagarem com a vida. Mas não se deveria também responsabilizar as autoridades por darem licença de condução aos inconscientes? Ou teremos que ter, afinal, um polícia a cada esquina?
*As estradas, como os rios, têm margem esquerda e direita. Porque têm um sentido, o da marcação quilométrica. por MCV às 22:35 de 26 fevereiro 2008
Conta-me como foi*
Sou apreciador da série da RTP, copiada da espanhola. Como em tudo na vida, é-me difícil dizer o que me atrai ali. Mas nunca poderia ser o facto de me identificar com o Carlitos – apesar da idade ser parelha – por a voz off me mostrar uma caricatura demasiado atrasada de uma mente com nove anos. Nove anos digo eu que era a minha idade em 68 (já vamos em 69, me parece) e pode bem ser a idade do Carlitos. Ainda assim, apesar de haver ali mais caricatura do que realidade, sou fã. Pode ser que hajam os habituais anacronismos, as chapas de matrícula em plástico quando no tempo elas eram ainda quase todas em metal e muita outra coisa que escapou aos aderecistas, como é costume. Mas eu gosto de ver.
*título de série da RTP por MCV às 18:02 de 25 fevereiro 2008