Sempre o tive. Mais carregado umas vezes, menos acentuado noutras.
Segue estas variações conforme a bússola.
Mulheres que acordaram com um urbano de sotaque levemente sulista e adormeceram nos braços de um alentejano chaparro que deixara as botas caneleiras do outro lado do quarto.
O mistério da coisa tem a ver com a progenitura. Que nem um nem outro ostentavam o tal sotaque.
Mas este vosso criado sempre foi de duas paragens. E muito parava ele no sul. Pouco mais que palavras não eram ditas no último dia de escola e já o sacrista dava à sola.
Serve este intróito para dizer da minha pouca vontade em o fazer hoje em dia.
Por um lado, já não conto com as paredes que me abrigaram por mais de quarenta anos.
Por outro, sendo certo que em tempos até constou em alguns círculos que o homem tinha feito as malas e se instalado de vez a espreitar a horta, sendo também certo que pouco faltou para o boato deixar de o ser, dou-me hoje conta de que já não o faria.
E não o faria, não o farei, pelo menos enquanto a maré não mudar, por uma razão essencial - não convivo bem com os ambientes fechados.
Fechados porque o sistema o é. As conversas tendem a ser da vida alheia, os palpites sobre as coisas que faço e que não faço tendem a ser mais do que muitos. Mesmo aqueles que nunca se interessaram por esses temas, o fazem hoje. Foram engolidos pelas circunstâncias. Não me apetece sê-lo também.
Há uns anos, deparei com um recanto que me encantou. Ribeira, choupos, pinheiros resguardando da estrada, só vantagens. Desde que me habituasse a conviver com a passagem do comboio sobre a interessante ponte metálica ao fundo do quintal.
A pergunta que faço a mim próprio é se algum dia nascerá alguma coisa por ali.
E se nessa época já estarei surdo para a passagem do comboio e para as vozes do mundo.
Não foi o valor do imposto que paguei.
Sequer foi a atenciosidade do funcionário. Ou a falta dela.
Não foi a fila de pagantes. Estava sozinho ao balcão.
Foi a senhora que entrou, vestida de vermelho.
O funcionário bloqueou. O vizinho do lado idem.
Talvez eu seja muito exigente com a fazenda.
Vista de perto, não era caso para tanto.
Uma das curiosidades desta época é o dispormos de uma carrada de dados inúteis que, às vezes, podemos achar curiosos.
Aqui no mundo dos blogues e num caso como o meu, que não conheço pessoalmente nenhum dos autores que leio, quase que se pode dizer com precisão ao segundo o momento em que virtualmente dei por eles.
Quando chego a um blogue que me agrada à primeira vista, é certo que gravo o endereço nos tais dos favoritos. Não será no segundo imediato, com toda a certeza. Pode até dar-se o caso de não o gravar à primeira visita. Mas com esses tais dados inúteis, lá posso saber data e hora, minuto e segundo do registo.
Conheci-te, melhor dizendo registei-te às 0:44:31 de 10 de Abril de 2004.
E para que serve isto?
Qualidade e quantidade são conceitos que se entrelaçam. Se é facilmente aceite que qualquer qualidade é resultante de uma quantidade, também é certo que só se pode quantificar partindo de uma definição de qualidade.
Quantificam-se azuis, depois de os qualificar como tais.
A quantidade de azuis numa mistura dá, a partir de uma escala, a qualidade dessa mistura.
Ovo e galinha, mais uma vez.
No entanto, considerem-se os problemas mais escrutinados que a humanidade actualmente enfrenta ? quase todos eles perderiam expressão se a contagem dos homens à face da terra fosse mais baixa. E não a perderiam na proporção directa da redução do número de viventes, seria uma redução muito maior.
Outros problemas se levantariam então. Para alguns deles, a solução seria haver mais gente.
A Natureza estará para nos pregar uma partida? Que qualidades são estas que retiramos do nosso número actual?
O século dito do povo foi justamente aquele em que mais povo morreu às mãos da guerra.
86 anos depois de se calarem as armas do primeiro dos banhos de sangue, para uma curta trégua, pergunto-me:
E este, que século será?
O 11 de Novembro trouxe este ano mais um marco para a história. Veremos que importância tem.
Não sou dos que têm razão para se queixar da vida. Porventura, os que têm razão para isso não se queixam.
Nem sei muito bem para que é que fui buscar esta conversa a propósito de fumar beatas.
Mas talvez fosse para me desculpar de tocar num tema que pode ser sempre interpretado de outra forma. Não é de miséria que se trata. Nem de queixumes.
É apenas uma constatação de que certas coisas na vida tendem a esquecer-se.
E esta noite lembrei-me disso por me ter faltado o tabaco.
Nos tempos que correm, aqui em Portugal, não há grande razão para faltar o tabaco desde que se tenha dinheiro para o comprar.
A qualquer hora da noite há sítios abertos onde se pode comprar um macito de cigarros.
Quase toda a gente tem carro para se deslocar até lá, se fôr longe para ir a pé.
No meu caso, tenho aqui a 500 m uma bomba de gasolina. Mas esta noite resisti. Não fui. Foi nessa altura que me lembrei das beatas.
Das vezes em que nas noitadas se reciclavam os cinzeiros.
Vício de um cabrão, este.
Por um acaso qualquer, é nestes dias de Novembro que há muito faço longas jornadas na estrada.
Já nem sei quando isso começou, mas foi lá para o final dos anos 80.
E quase sempre acontece que surgem os tais dias de céu azul, frios, que é para norte que quase sempre abalo.
Também já ocorreu ir para sul e dar praia. Praia de Novembro, magnífica.
Por isso, ao olhar para o céu nestes dias, e ante a impossibilidade próxima de me pôr a andar, a coisa fica um bocado negra.
É um sol que não ajuda a quem está parado.